O Pier de Santa Mônica em 1990

Por: Adriana Aguiar Ribeiro

Gostar de escrever tem me proporcionado boas descobertas em meus guardados, o que tem permitido postar diários de viagens feitas no passado. Reproduções de alguns  manuscritos. Hoje encontrei datilografadas três páginas com histórias do Pier de Santa Mônica, na Califórnia. Morei por seis meses em Los Angeles e esta foi uma das experiências mais fantásticas em minha vida. Tinha na época 23 anos e ter vivido fora do meu país foi determinante para o meu crescimento e para me tornar a pessoa que sou hoje. 

Confira abaixo detalhes do Pier de Santa Mônica em 1990. Se você esteve lá recentemente, conte para a gente como está o Pier hoje e se sofreu muitas mudanças ao longo dos anos!

Setembro, 1990

"Já de volta ao Brasil, vou contar um pouco sobre um dos meus lugares preferidos na Califórnia: o Pier de Santa Mônica, onde costumávamos passear frequentemente. 
Me encantava no Pier o ar tropical. Lembrava o Brasil. Além disso, era atraída pelas dezenas de lojinhas com miudezas para turista ver. O perigo maior eram os jogos de fliperama, onde mesmo perdendo meus últimos níqueis, alimentava a esperança de ganhar. Naqueles imensos galpões de jogos de brinquedos, a gente perde a noção do tempo e do dinheiro. E nunca saí de lá com um cãozinho de pelúcia sequer. 

O carrossel do pier é algo que encanta crianças de todas as idades. Um carrossel sobre o mar é algo mágico. Além disso seus tons dourados e outros brilhantes enfeitando as cores dançantes sob a doce melodia de uma espécie de caixa de música, faziam o carrossel bailar ao som que lembra um lápis batendo em copos de cristal. Cavalinhos puxam charretes e carruagens. Tudo isso ao preço de sete quarters (USD1.75).

Outra coisa que também atraía muito minha curiosidade era uma misteriosa máquina do tempo. - Coloque apenas cinquenta centavos e veja o grande terremoto que abalou San Francisco! - dizia o anúncio. O dinheiro andava sempre meio contado, porém a curiosidade pelas excentricidades daquela terra falavam sempre mais alto. Por isso despendemos duas moedinhas de 25 centavos e... decepção: apenas trinta segundos de mostra de fotos sebosas e riscadas do que foi o terremoto de San Francisco no começo do século.

Conhecia cada centímetro de madeira que forrava o piso daquele Píer. Fotografava e filmava tudo que parecia interessante. Cada gaivota que plainava sobre nossas cabeça era uma novidade a mais. Indo até a beira do Pier gostava de apreciar o infinito, onde o mar se juntava com o céu. De lá, a densa camada de poluição que circulava toda Los Angeles parecia menor. 

Num plano inferior ao Pier, onde se chegava através de escadas de ferro, havia um deck de madeira, onde se reuniam pescadores com suas varas. A pesca não tem raça. Mexicanos, negros, índios e brancos  se reuniam ali, pacientes e esperançosos que beliscassem suas linhas estendidas. 

O Pier de Santa Mônica viveu seus momentos de glamour entre os anos de mil novecentos e quinze a mil novecentos e trinta e cinco, quando aconteciam banhos à fantasia e desfiles de roupas de banho. Durante o verão um grande e bonito parque de diversões é instalado sobre o Pier de Santa Mônica. Histórias contam que o Pier foi palco de três grandes incêndios que destruíram quase completamente toda sua estrutura. Dizem as más línguas que as labaredas de fogo lambiam os carrinhos da montanha russa, de onde se ouviam gritos de pânico das pessoas.

Na entrada do Pier há um grande sapo de concreto, que pode ser controlado pelos visitantes, esguichando água pelos olhos. Custei a descobrir que o controle da água dos olhos do sapo era feita dos comandos de um pequeno barco de concreto. As escadarias que levam ao Pier tem corrimão em forma de dragão, também em concreto. Ao subir as escadas, depara-se com um pequeno coreto em madeira, pintado em tom azul céu, o que contrastava com o Pier marrom, quase flamingo, com janelas azul petróleo. O prédio do carrossel e das lojinhas e restaurantes lembram castelos medievais. 
Na extremidade direita do Pier, lunetas tomam algumas moedas dos turistas desavisados em troca de imagens turvas e capacidade de aproximação bem inferior a nossa câmera filmadora. 

Saindo do Pier basta atravessar a ponte alta e curva que leva diretamente a Santa Mônica. Dali se tem uma bela vista de Venice e Malibu. Mas isso já é outra história."

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